sábado, 6 de setembro de 2008

Não valeu à pena, amor.

- Já sei de tudo!
Na linha, uma voz feminina, trêmula, parecia não conseguia dizer mais nada. O coração estava enorme, obstruía e esmagava as cordas vocais, calando-a...

- Já sabe de quê?
O instinto canalha normal a certos homens falara por ele querendo dar-lhe tempo de formular desculpas, enredos para alguma história digna da confiança dela, mas ele sabia a dor que desencadeara...

-Já sabe de quê? Insistiu ele. Pensou em chamá-la de “meu amor”, mas faltou-lhe mentira para isso...

Houve um silêncio curto e profundo, porém dado o instante, o silêncio pareceu longo e barulhento, no mínimo, ensurdecedor.

Céus, como grita e se arrasta o silêncio em momentos assim!

Ela flutuava descrente da dor que sentia, não sabia onde doía mais, toda ela era uma ferida mergulhada em álcool caseiro e tinha a impressão de estar numa realidade onde o amor jamais existira. No intimo, praguejou da amiga fiel que lhe contara minutos antes da festa na noite passada e dos beijos que seu amado derramou numa boca que não foi a dela. Tinha numa mão o telefone e na outra a mão da amiga colada à sua, numa firmeza de quem segura alguém que não se quer ver cair... Se existia algo que ela amava naquele momento, era aquela mão e aqueles olhos que sofriam uma dor a dois.
Amiga fiel até doer...

- Carol, me fala o que está acontecendo. É algo sério ou mais uma das suas crises de ciúmes sem razão?

Coitado dele: sentia uma culpa esmagadora dessas que faz o homem perder o rumo. Era um imbecil imaturo, fraco no amor, traíra todas as namoradas e tinha orgulho de tal proeza na rodinha de amigos, mas em alguns momentos, nesses que o homem se desfaz da sua mediocridade crônica, sentia que era bem menor que todas as mulheres de sua vida e por isso, covardemente, traía.

- Ricardo, eu sei de tudo sobre a festa. Você me... – as lágrimas interromperam as palavras, impossível tê-las ao mesmo tempo, mas ele havia entendido...

- Carol, aquilo foi... Me desculpa! Clamou.

- Espero que tenha valido a pena – Estranho, mas, ela sentiu que era sincera e que, agora, tinha pena dele.

- Não diga isso! Suplicou-lhe o infiel.
As palavras dela fizeram com que ele procurasse nas lembranças o rosto feminino da noite passada, mas lembrou-se apenas de um canto escuro e da música alta.

- Isso nunca mais vai acontecer! Disse ele com um ar de quem vai morrer. Ainda tinha esperança de salvar os noves meses que estivera junto dela.

- eu sei... Adeus – disse ela desligando o telefone.

Acabou-se o amor nela.













Ele ainda com o telefone junto da orelha vacilou e quase chorou. Quase.

“Tum... Tum... Tum” gemia o telefone solitário junto à orelha.

Um coração culpado e sozinho na linha, ainda sussurrara:
- Não valeu à pena, amor.

Tum... Tum... Tum...

(Allan Castro)

_Paz&Bem!
__Inútil.
Pieces (Piano Instrumental) - LArc~en~Ciel

6 comentários:

Jéssica Amorim disse...

Poxa. Eu tô chorando, Allan. ><"
Que texto, cara. Parece alguém dizendo: "Aprende uma coisa, Jéssica:"
Enfim.

Quero notícias suas!
Você tá bem? Alguma novidade?
Cuida-te, Allan. :*

Jéssica Amorim disse...

Allan... esse texto significa... é?

Joris disse...

Céus, como grita e se arrasta o silêncio em momentos assim!

VocÊ se garante demais³³³³. *_*
Amo teu blog.

=*

jujuba disse...

que texto lindo, diálogo forte, simples, real.

e nunca, nunca vale à pena... --

(espero que nao seja tipo os meus dialogos , que descrevem minha vida...)

beijão!!

Dinnah disse...

Lindo. Lindo demais.

Meu deu aquele nó na garganta.
os olhos enxeram d'agua.
mas não chorei, não quero mais chorar por sua culpa.


Teamo :*

Lili disse...

dózinha
dos 2 inclusive