segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Chuva aos vinte

Ele estava muito bem sentado no banco do ônibus. Na verdade, estava quase deitado, aproveitando que no assento ao lado não havia ninguém. Olhava as casas passando ligeiras pela janela de vidro com um lado aberto, deixando uma brisa invadir seus cabelos e alma. Mantinha o ar calmo e reflexivo já tão conhecido por seus amigos e tão odiado por sua mãe, que vivia a reclamar do jeitão “bicho-grilo” do filho, aliás, pensava nela naquele momento: Como dizer que foi rejeitado em mais uma entrevista de emprego? Qual a melhor forma de fazê-la crer que, tal o filho do vizinho e outros conhecidos dela, ele também iria conseguir uma independência financeira? Não sabia! Procurou não pensar nisso num assento de ônibus, quando estivesse em casa, mais especificamente no seu quarto, seu mundo atual, pensaria nas aflições divididas com a mãe.

Depois de alguns instantes, cansou da vista na janela, puxou um livro da mochila e pôs-se a folhear; aquilo não era leitura, era mais um passatempo, uma tentativa de esquecer as palavras ditas por uma senhora com cara de bruaca, que foi bem clara quanto à incapacidade dele para exercer qualquer cargo naquela maldita empresa... Teve vontade de fazer como antigamente e passar o dia dentro dos ônibus indo de terminal em terminal, observando as pessoas nuas de fingimentos, submersas na rotina e no anonimato, mas sentia-se cansado para reviver antigas loucuras.

Lembrou-se de um tempo que ele bebia vinho e tocava violão numa roda de recém conhecidos na beira do mar. Um tempo irresponsável, vagabundo, errante e indeciso, enfim... Feliz.

Guardou o livro e as lembranças na mochila, definitivamente aquele livro não o estava fazendo bem, suas páginas deram-lhe a nostalgia, e aos vinte anos isso não é nada bom.

Pronto.

Voltou ao tempo presente onde era preciso crescer e entristecer.

Era preciso escancarar o mundo e conseguir um lugar ao Sol... Que pena... Ele queria mesmo era banhar-se na chuva.




(Allan Castro)

#Foto editada por mim! ;D

_Paz&Bem.

__Inútil.



Sete Cordas - Raphael Rabello

3 comentários:

jujuba disse...

'aproveitando que no assento ao lado não havia ninguém.' isso me fez pensar que quando não temos ninguém ao nosso lado devemos aproveitar para relaxar :) daria um grande diálogo ,daqueles que tanto adoro!

eu que sou apaixonada pela sua poesia prosada :) lindo!

e se for ex que não me veio, se vier será bem-vindo!

beijos, ju :D

Jéssica Amorim disse...

Desculpa a demora pra ler.
Mas pode crer: eu to sempre aqui.

Quando eu tô no seu blog, as suas prosas e as músicas escolhidas por você realmente me envolvem, sabe?
Eu paro e fico meio dãuh.

É impressão minha, mas aqui é mais seu do que o do recanto de letras?

Tenho uma coisa já muito falada pra te dizer: adorei seu texto. :*

Dinnah disse...

Eu ando ocupada, muito, muito ocupada..
Mas não o bastante pra te esquecer.
Como se o senhor tivesse morrido, mas sempre voltasse, em minha mente, em meus sonhos, nos meus banhos, de um jeito bem Brás.. e me envolve, me enche de saudade do ombro com sinais, da camisa branca aberta, do sorriso, de um pedido de casamento com segundas intenções.

Sabe o que mais me incomoda? e que sei que você não pensa em mim o quanto eu penso em você.
Afinal, você é um fantasma, que só me vem quando eu ja não sei o que é um sonho ruin e o que é um sonho bom.

Ah, Allan, Maldito Allan.
Maldito beijo :*
Texto, como sempre. perfeito.